EXU KAMINALOÁ
- TATA LUIS
- 16 de nov. de 2015
- 5 min de leitura

Tenho visto alguns comentários na internet a respeito do Exu Kaminaloá e, pelo que conheço dele, nesses quase 30 anos em que trabalhamos juntos, posso constatar que a maioria dessas informações não correspondem à realidade e são, na maioria das vezes, repetições de outros sites, que multiplicam a mesma informação, criada por alguém que talvez não conheça tão a fundo o comportamento desse exu.
Por ser o Exu Kaminaloá o Guardião principal do nosso Templo, sinto-me na obrigação de esclarecer aos nossos visitantes internautas sobre este grande trabalhador.
Inicialmente, gostaria de lembrar que o nome com que uma entidade se apresenta, não representa de fato o nome dessa entidade, mas sim a falange em que trabalha. Dessa forma, embora possa haver vários médiuns que trabalhem com o Sr. Kaminaloá, não quer dizer que seja o mesmo espírito. Contudo, uma coisa é mais ou menos certa: mesmo sendo espíritos diferentes, por pertencerem à mesma falange de trabalho, eles costumam se apresentar de forma semelhante, como se fosse um uniforme. E esse "uniforme" abrange não apenas a aparência propriamente dita, mas também o comportamento e a personalidade.
Há quase trinta anos atrás, quando comecei a trabalhar na Umbanda, não sabia absolutamente nada a respeito do Exu Kaminaloá. Mais tarde, pesquisando em livros mais antigos, encontrei referências a ele como sendo o chefe da linha dos "Mossorubis" (que na verdade é Muçurumins). E era só isso o que eu encontrava. Porém, como todo médium novato, empolgado e curioso, eu ficava imaginando como ele seria, do que gostaria, etc. Afinal, no terreiro em que eu iniciei o meu desenvolvimento mediúnico, havia muitos exus, mas nenhum Kaminaloá. E a maioria dos exus que lá trabalhavam eram conhecidos, tinham imagem em gesso própria, etc. E o "seu" Kaminaloá, como seria? Eu vivia com essa dúvida. Até que eu, sem perceber, num ato natural e compreensível para um médium novato e curioso, comecei a imaginá-lo como a maioria dos outros exus que eu conhecia: alto, forte, jovem, barba, cavanhaque, etc (parecido com um Tranca-Ruas, ou qualquer coisa assim).
Acho que Seu Kaminaloá deve ter entendido que, no fundo, eu não tinha culpa por imaginá-lo de determinada forma. A causa disso tudo era somente a falta de informação a seu respeito. Acho que ele entendeu e, justamente por isso, resolveu aparecer para mim.
Eu estava deitado em minha cama, terminando de ler um livro, quando de repente, dentro do meu quarto formou-se a figura de dois homens. Um deles, o mais alto, reconheci imediatamente, pois possuía o rosto de caveira e usava um capuz (deduzi ser o Sr. Caveira). O outro, que estava ao seu lado era bem mais baixo, moreno-mulato, aparência de uns 50 a 60 anos de idade, franzino, careca, sem barba, com um bigode ralíssimo, quase invisível. Vestia um terno preto com uma capa preta e um chapéu cinza. Ele olhou para mim e naquele momento eu percebi que era o Sr. Kaminaloá. Perguntei se era ele mesmo. Ele olhou para mim, riu e falou que sim.
Essa "materialização" foi muito importante para mim, porque o exu que eu vi era completamente diferente do que eu imaginava. Era completamente diferente de qualquer outro exu que eu conhecia. E, além disso, eu não estava imaginando, nem dormindo e muito menos sonhando. Eu realmente VI! A partir daí, aprendi a não acreditar muito no que dizem por aí a respeito de qualquer entidade, pois eu percebi que, pelo menos em relação ao exu Kaminaloá, ele era bem diferente do que se falava. Não podemos esquecer que muita gente fala muita coisa porque copia o que leu, porque repete o que falaram, etc, etc. Mas poucos trabalham especificamente com essa entidade.
Querem ver uma coisa? Circulam na internet duas informações completamente antagônicas em relação ao exu Kaminaloá. Uma diz que ele chefia a linha dos muçurumins. A outra diz que ele tem a aparência de um feiticeiro africano, que chefia os "exus que vestem pena". "Muçurumim" é a forma como os negros malês se auto-denominavam. Os negros malês (pesquisem sobre a revolta dos malês, na Bahia) eram negros de muita cultura, sendo a maioria muçulmana. Vestiam-se bem, eram sérios e gostavam de estudar. A grande maioria sabia ler e escrever, bastante diferente dos outros escravos que vieram para o Brasil. Esse tipo de comportamento e aparência se distancia bastante do estereótipo primitivo, do negro feiticeiro que veste penas. E, cá entre nós, a personalidade do Sr. Kaminaloá que eu conheço é bem parecida com a dos muçurumins. Ele é bastante (muuuiiiito) sério, demonstra grande cultura, é direto no falar, indo direto ao assunto, sem rodeios. Veste-se muito bem, bebe, preferencialmente, vinho branco ou vinho verde e não é nem um pouco dado a brincadeiras.
Outro ponto que confirma a ligação dele com a cultura malê é o próprio nome, que vocês devem estar curiosos para saber o que significa. Eu também fiquei curioso por muitos anos. Até que fiz um curso de cultura Yorubá e descobri que esse nome não consta na cultura Yorubá. Esse é um nome composto por palavras Bantu (daí a prova da ligação com os malês). "Kaminaloá" vem da união das palavras bantu "Kamoná" e "Lonã". "Kamoná" significa "criança", "filho" ou "o pequeno" (e ele é baixinho mesmo). Dessa palavra, inclusive, originou-se a palavra "cambono", que é aquele "menor", que auxilia no terreiro. A palavra "Lonã" significa "o que fala".
Juntando Kamoná + Lonã = Kamonalonã. Com o tempo, essa palavra passou a ser falada como "Kaminalonã"; depois como "Kaminaloã" e, por fim, "Kaminaloá", cujo significado é "o pequeno que fala", ou "o filho do que fala". Lembremos que Exu é o porta-voz dos Orixás. Exu é o que fala. Assim, o significado do nome tem tudo a ver com o seu trabalho. Mas, como eu disse, vocês não vão encontrar qualquer combinação possível de palavras Yorubás para a sua formação. O seu nome tem origem bantu, e portanto, grande possibilidade de confirmar a teoria dos muçurumins.
Em relação aos desenhos desse exu, algumas vezes encontrados na internet, sinceramente, acho extremamente diferente do Sr. Kaminaloá que conheço. Esses desenhos apresentam um homem com capa de penas, chapéu de palha desfiado, cabelo ouriçado e desgrenhado, pé descalço, etc... Posso dizer que, de tudo o que já encontrei, a única semelhança com o Sr. Kaminaloá que conheço é o fato de trabalhar no cemitério. Por isso, minha gente, não acreditem em qualquer coisa que vocês encontrarem por aí, seja em livros, seja pela internet! Há muita gente que só repete o que leu em algum lugar, sem o mínimo conhecimento ou embasamento para isso.
Mas, enfim, não espero que outras pessoas conheçam bem esse exu. Nunca encontrei alguém - além de mim - que trabalhasse com ele. Nunca encontrei sua imagem em gesso, nunca encontrei nada que não tenha sido ele mesmo a me ensinar, na qualidade de meu exu, de meu instrutor e orientador. Por isso o admiro tanto, e por isso acho que sou habilitado para falar um pouco sobre o que sei do EXU KAMINALOÁ.
Laroiê!
Amplexos,
Tata Luis
Boa tarde, descobri que tbm tenho Exu Kaminaloa como meu frenteiro, estou a 4 meses tentando entender sobre ele já que o terreiro que eu frequento não autoriza a incorporação com ele, pois falaram que a incorporação é muito densa. Ficaria muito grata se me ajudasse a saber um pouco mais sobre, claro q cada entidade é única como vc falou, mas ficaria muito feliz em entender mais. Obg
E salve o Exu Kaminaloá!!!